quarta-feira, 1 de julho de 2009

Roda de Funk no Dona Marta é proibida pela PM



Voltamos à ditadura?
Por Marcelo Salles, 29.06.2009 - www.fazendomedia.com


Se voltamos ou se nunca saímos dela é um debate interessante, que vou deixar pra depois. Agora o que precisa ser feito é uma denúncia, grave: a PM proibiu uma manifestação político-cultural que seria realizada neste domingo (28/6), na favela Dona Marta, que fica em Botafogo, na Zona Sul carioca.

O evento estava sendo organizado pela Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFunk), que desde o ano passado vem promovendo rodas de funk em universidades, na Central do Brasil, na Cidade de Deus e em outros lugares. Segundo o tenente-coronel Gileade Albuquerque, comandante do 2º Batalhão, responsável pela região, o evento poderia trazer riscos à segurança da favela. Rumores indicam que ele teria ameaçado cercar a área com a tropa de choque, caso a atividade fosse realizada.

Eu estive no Dona Marta há duas semanas, mais precisamente no bar do Zé Baixinho. Conversei com Emerson dos Santos, o Fiell, promotor de um evento político-cultural chamado Pago-Rap, que mobilizava cerca de cem pessoas a cada 15 dias em torno de música e de mensagens políticas de resistência. Ele disse que a PM proibiu o evento sem dar maiores explicações. Vários outros moradores da favela criticaram a presença da polícia. Muitos argumentaram violação do direito à expressão.

Questionei a capitã Priscila, que comanda o patrulhamento na favela. Perguntei o porquê da proibição do Pago-Rap. Ela disse que só poderia falar se autorizada, mas que mesmo assim se recusaria a dar declarações a esse respeito.

MC Leonardo, presidente da APAFunk, declarou: “Ninguém no mundo tem o direito de perseguir a cultura”. E disse que não vai desistir. A partir de hoje vai correr gabinetes parlamentares e favelas em busca de apoio. Depois vai ao comandante do 2º Batalhão solicitar autorização, assim como fez antes de realizar o evento na Cidade de Deus. Se ele não autorizar, vai fazer o evento mesmo assim.

Seria bom que os colegas blogueiros ficassem atentos a este tema, pois será preciso convocar e participar da roda de funk no Dona Marta. Já que a situação chegou a este ponto e como tem gente disposta a resistir, o mínimo que podemos fazer é dar visibilidade a esta luta.

Sobre as corporações de mídia: espero que divulguem também, pois o preconceito em relação ao funk também nasce e cresce a partir da cobertura superficial e tendenciosa dos veículos de massa. Pode ter certeza que se na Cidade de Deus participaram mil e não dez mil pessoas, isso tem a ver com a associação constante entre funk e atividades ilícitas.


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Nota da Apafunk - 26 de junho de 2009:
Manifestação pela liberdade cultural no Santa Marta é proibida


Roda de funk prevista para a tarde deste domingo (28/6) no Morro Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, foi proibida pelo comando do batalhão de Polícia Militar da área. A manifestação político-cultural foi organizada pela Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk) e pelo movimento Visão da Favela, como atividade da campanha Funk é Cultura, em defesa da liberdade de expressão cultural, pelo direito dos artistas populares ao trabalho, contra o preconceito e a criminalização do funk e da cultura popular.

Sob o lema Paz sem voz é medo, o ato previa uma apresentação teatral, graffite e apresentação de rappers e funkeiros com letras de resgate do funk de raiz, de compromisso social. A Apafunk nasceu da união de MCs e DJs para buscar, por meio das rodas, a conscientização da sociedade em relação ao fato de que nem toda letra de funk contém pornografia ou apologia ao crime.

Ao longo de um ano de luta, artistas de outras vertentes culturais populares se articularam com o movimento na promoção de debates e rodas de funk pela cidade.
Em um contexto de repressão rotineira ao funk, pela primeira vez a Polícia Militar proíbe uma manifestação da campanha. No Santa Marta, alguns agentes culturais têm enfrentado dificuldades na realização de eventos artísticos, assim como em outros locais do Rio sob modelo de policiamento semelhante — como na Cidade de Deus, na Zona Oeste, e no Morro da Babilônia/ Chapéu Mangueira, na Zona Sul.

Os organizadores da manifestação vão continuar cobrando das autoridades públicas o direito à livre manifestação e à expressão cultural das comunidades.

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