quarta-feira, 1 de setembro de 2010

BAILE NO TABAJARAS É O PRIMEIRO EM COMUNIDADE COM UPP

O “bagulho” só começou a ficar “frenético” lá para a meia-noite. Por volta das 22h, perguntei ao DJ Risada se era normal estar vazio. “Só mais tarde, rapá”, me respondeu. Aos 27 anos, o principal DJ do Tabajaras estava certo. Foi só dar meia-noite e a “parada” começou a ficar “sinistra”. Tocou de tudo. Do funk mais consciente àqueles cheios de trocadilhos. Caipirinha lá fora, cerveja lá dentro. As “preparadas” iam sem parar até o chão. Eu, no meu primeiro baile funk na vida. Eles, no primeiro baile funk após a pacificação. A noite do último sábado, na Ladeira dos Tabajaras, foi histórica para os fãs do ritmo, e também para o Rio.

A voz de MC Leonardo mostrava isso. Na luta há mais de dez anos pelo reconhecimento do funk como movimento cultural, ele teve que segurar a emoção. Não era para menos. A estrela dos Silvas podia brilhar. O baile mostrou que a letra dos Anos 90 — “Era só mais um Silva que a estrela não brilha” — pode ter uma releitura. Quem foi ao batidão do Tabajaras viu, não só o Estado reconhecer o funk como cultura, mas também o fim do medo da violência. Viu ainda a alegria de frequentadores como a estudante Mariana Werneck, top e shortinho de popozuda, como manda o figurino funkeiro. Mariana comemorava a volta dos bailes e o fato de só ter gasto R$ 10 a noite toda.

O baile terminou às 3h, numa combinação prévia com a PM. De resto, como disse Risada, foi “tranquilaço” e tem tudo para se tornar sucesso. O morro voltou a ser dominado pelo funk, que agora pode rolar sem estar sob a mira das armas.

Para mim, também foi uma noite aguardada. Percorro favelas pacificadas quase todos os dias, converso com moradores e sei o quanto queriam o baile. Em todas as comunidades com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), eles não querem só polícia. Querem polícia, diversão e arte.

* Texto extraído do Blog da APAFUNK

_______________________________________________________________

IMPRESSÕES DE UM FUNKEIRO

por Diogo Flora

Aconteceu o primeiro baile funk em uma comunidade invadida pela polícia pacificadora (UPP). Foi na Ladeira dos Tabajaras, mais precisamente na quadra da Escola de Samba Villa Rica, na noite do último sábado. Após quase 1 ano de aprovada a lei que reconhece o funk como movimento cultural carioca, o ritmo se solta das amarras impostas pela polícia e volta a tona, levando cultura e entretenimento à favela.

Nenhum problema foi registrado. Uma festa sem brigas, sem apologias e sem discriminar ninguém. Um sistema de transporte organizado de mototaxis cuidava de levar ladeira acima os funkeiros do asfalto que não quiseram subir a pé. Circulação de carros e táxis ocorrendo sem problemas na frente do local, onde uma alcatéia de repórteres espreitavam aquela cena que há um ano parecia impossível: baile funk convivendo com a polícia. Jovens de vários lugares, de várias cores, em direção à porta da quadra; camelôs vendendo cervejinha, refrigerante, churrasquinho e por aí já imagina a cena tão comum em lugares de descontração e pujança de cultura viva.

Valeu a pena o diálogo. Apesar da excelente música, o baile não foi o melhor que já fui, mas certamente foi um dos mais importantes, um marco na relação entre a polícia e a comunidade. Um avanço na conquista de direitos. Enfim, essa tal de “paz” agora também tem voz.

* Diogo Flora é estudante de Direito na UERJ e militante do movimento Direito Para Quem?

Um comentário:

Anônimo disse...

E o barulho? Como voces resolveram o barulho?