terça-feira, 20 de setembro de 2011

Reforma Urbana e Segurança Pública


Em início dos anos 1900, a reforma urbana empreendida por Pereira Passos no Rio de Janeiro refletiu o desenvolvimento capitalista que ocorria no Brasil. Sob o pretexto de preparar a cidade para o século XX, o que se observou foi o deslocamento dos recém libertos negros pobres da região central da cidade e o conseqüente crescimento das favelas na periferia da área economicamente pujante. Quando não foram despejados pelo governo, foram invariavelmente afastados pela especulação imobiliária que acompanhava as transformações da cidade.

Ironicamente, será outra vez o Rio de Janeiro a representar o novo paradigma de cidade, sob o sedutor discurso de se preparar para o século XXI. Mas, hoje, a abrangência das reformas são nacionais. Em todos os lugares e por toda a mídia somos convencidos de que temos que nos preparar para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Temos que juntar esforços para construir um novo país. Temos que ser tolerantes, pois um futuro muito melhor nos aguarda. Essa história, nós já conhecemos. Enquanto os imóveis atingem a cifra dos milhões de reais, comunidades inteiras são removidas de seu local de origem. Novamente, a população favelada vê ameaçados o seu local de trabalho e convívio social. Uma onda de periferização ganha força com os investimentos bilionários nos megaeventos que se aproximam, acirrando a especulação imobiliária.

E quando os detentores do poder político não conseguem afastar os pobres, pois precisam deles para trabalhar por quantias módicas, ocupam militarmente suas favelas, com muitos homens e muitas armas, e chamam isso de segurança pública. A recente implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) é conseqüência dessa política. Nas comunidades ocupadas pela polícia, todos os serviços urbanos, como limpeza e iluminação, são submetidos ao comando militar, em pleno regime democrático. Toques de recolher e humilhações em função da orientação sexual são recorrentes. E, tamanha a banalização da violência, qualquer manifestação popular de desagrado é reprimida, como nos tempos da ditadura. O recente caso no Complexo do Alemão é exemplo claro.

2 comentários:

José Neto disse...

Companheiros e Companheiras, farei um desabafo.

É muito difícil defender o que defendemos em tempos de quase unanimidade, de pensamento único. Parece que tudo conspira para que desistamos dos nossos sonhos impessoais. É preciso muita força moral para continuar no caminho do comunismo...

Rodrigo disse...

O modelo de desenvolvimento urbano adotado no Brasil, sobretudo na metrópole fluminense, privilegia a preparação do espaço de maneira que atenda as demandas externas: implantação de industrias, realização de grandes eventos, tursimo, etc. Este modelo segue um conceito de desenvolvimento, que exclui as historicidades e espacialidades da cidade, acentuando as desigualdades e disparidades sociais. Temos que discutir mais sobre o (des)envolvimento, pois o modelo atual é carregado de toda a peversidade.