quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Recortes sobre a Questão Palestina

Entrevista com Ilan Pappe,
Historiador Israelita, Autor de "The Ethnic Cleansing of Palestine".
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Das cinzas de Gaza
por Tariq Ali

O ataque a Gaza, planeado há seis meses e executado no momento certo, tinha em grande medida, como observou correctamente Neve Gordon, o objectivo de ajudar os partidos candidatos à reeleição a vencer as próximas eleições israelitas. Os mortos palestinianos são pouco mais que alimento eleitoral nesta competição entre a direita e a extrema-direita em Israel.

(...)

O entusiasmo do Ocidente pela democracia termina sempre que os que se opõem às suas políticas ganham eleições. O Ocidente e Israel tentaram de todas as formas garantir uma vitória da Fatah: os eleitores palestinianos rejeitaram o concerto de ameaças e de subornos da "comunidade internacional", numa campanha que viu a detenção rotineira de membros do Hamas e de outros oposicionistas pelo exército israelita, os seus cartazes confiscados ou destruídos, os fundos da UE e dos EUA a serem canalizados para a campanha da Fatah, e os deputados do Congresso dos EUA a anunciar que o Hamas não devia ser autorizado a candidatar-se.Até a data da eleição foi determinada pela vontade de burlar o resultado. Marcada para o Verão de 2005, foi adiada até Janeiro de 2006 para dar a Abbas tempo para distribuir vantagens em Gaza - nas palavras de um oficial de informações egípcio, "o público vai assim apoiar a Autoridade contra o Hamas".

O desejo popular de que houvesse uma vassourada depois de dez anos de corrupção, intimidação e arrogância sob a Fatah provou-se mais forte que tudo isto. A vitória eleitoral do Hamas foi tratada pelos governantes e jornalistas do mundo atlântico como um sinal deplorável do fundamentalismo crescente, e um golpe temível às perspectivas de paz com Israel. Foram aplicadas pressões financeiras e diplomáticas imediatas para forçar o Hamas a adoptar as mesmas políticas do partido que derrotara pelo voto. Sem compromissos com a combinação de ganância e de dependência da Autoridade Palestiniana, caracterizada pelo auto-enriquecimento dos seus servis porta-vozes e polícias e a sua concordância com um "processo de paz" que só trouxe mais expropriação e miséria à população, o Hamas ofereceu a alternativa de um exemplo simples. Sem ter qualquer dos recursos da sua rival, instalou clínicas, escolas, hospitais, centros de formação profissional e programas de bem-estar para os pobres. Os seus líderes e quadros viviam frugalmente, dentro dos padrões do povo comum.

Foi esta resposta às necessidades do dia-a-dia que conquistou para o Hamas a sua ampla base de apoio, não a recitação diária dos versos do Alcorão.

(...)

O que realmente distinguiu o Hamas, num combate desigual e sem esperança, não foi o uso de bombistas suicidas, uma prática que contava com muitos competidores, mas a sua superior disciplina - demonstrada pela capacidade de impor um auto-declarado cessar-fogo contra Israel no ano passado. Todas as mortes civis devem ser condenadas, mas como Israel é o seu principal adepto, a hipocrisia euro-americana serve apenas para se desmascarar. A maior marca de assassinatos está no outro lado, brutalmente cravada na Palestina por um exército moderno equipado de jactos, tanques e mísseis, na mais prolongada opressão armada da história moderna.

"Ninguém pode rejeitar ou condenar a revolta de um povo que sofreu a força bruta de uma ocupação militar durante 45 anos", disse o general Shlomo Gazit, ex-chefe de informações militares israelita, em 1993.

Tariq Ali, publicado no "The Guardian" em 30/12/2008
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Relator da ONU acusa Israel de violar Convenção de Genebra
Plantão | Publicada em 07/01/2009 às 18h01m - Reuters

SÃO PAULO - As ações de Israel na Faixa de Gaza representam uma violação dos direitos humanos e são um "claro exemplo" de uso desproporcional da força e "crime contra a Humanidade", na opinião de Richard Falk, relator especial da ONU para a Situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinos.

Falk, que conversou com jornalistas em São Paulo, criticou a decisão israelense de proibir a saída de pessoas da Faixa de Gaza, o que cria uma situação "sem precedentes na história das guerras urbanas modernas".

"Em todas as guerras vários refugiados são produzidos por pessoas que tentam escapar das coisas horríveis que acontecem com elas e com suas famílias", disse o relator.

"Mas Israel impôs uma proibição total para sair de Gaza. Um civil palestino não pode tornar-se um refugiado", acrescentou na entrevista organizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.

O relator especial, que teve sua entrada em Israel negada pelas autoridades do Estado israelense após, segundo ele, ficar 15 horas detido numa cela no dia 14 de dezembro, também acusou o país de tentar esconder a realidade ao não permitir a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza.

Crítico da política israelense para a Faixa de Gaza, Falk afirmou que o bloqueio imposto pelo Estado de Israel à região viola a Convenção de Genebra por se tratar de uma "punição coletiva" e por impedir que a população de Gaza tenha acesso à alimentação e a cuidados médicos básicos.

O relator defendeu a realização de investigações para, caso haja indício de crime contra a humanidade, os responsáveis sejam julgados criminalmente.

Falk rebateu ainda as alegações de autoridades israelenses de que o país está se defendendo contra o lançamento de foguetes em seu território pelo Hamas. Segundo ele, a trégua de seis meses mediada pelo Egito não foi quebrada pelo lançamento de foguetes, mas por um ataque israelense em Gaza, no dia 4 de novembro.

PAPEL DA ONU

Falk, nomeado para o cargo em março do ano passado, defendeu uma trégua imediata entre Israel e os militantes do Hamas, além do fim do bloqueio e do lançamento de foguetes por grupos palestinos contra o território israelense, atitude que ele considerou "ilegal" e "imoral". Ainda assim, o relator recusou-se a classificar o Hamas de terrorista.

"Não acho útil chamar o Hamas de organização terrorista, pois considero que isso é uma forma de deixar a política e a diplomacia de lado e um convite ao uso da força. Da mesma forma, não acho útil chamar Israel de um Estado terrorista por ele cometer atos ilegais", disse.

Falk também criticou os Estados Unidos e afirmou que a Organização das Nações Unidas (ONU) só pode cumprir seu papel caso os principais países membros desejem que o faça.

"A grande pergunta que se deve fazer agora é: por que a comunidade internacional e as Nações Unidas têm feito tão pouco", afirmou.

"A oposição dos Estados Unidos à proteção dos palestinos pela ONU têm evitado que a ONU adote as posições que a Carta da ONU determina que a comunidade internacional tem a responsabilidade de adotar", afirmou.

O conflito em Gaza, que dura 12 dias, já deixou ao menos 653 palestinos mortos de acordo com autoridades médicas palestinas. Segundo dados da ONU, cerca de 25 por cento dessas vítimas eram civis. Entidades palestinos de defesa dos direitos humanos, no entanto, colocam esse número em mais de 50 por cento.

Por outro lado, 7 soldados israelenses e 3 civis do país também morreram por conta do conflito.

Nesta quarta-feira, após intensa pressão internacional, Israel concordou em suspender as operações militares por três horas diárias nos arredores da Cidade de Gaza para permitir o fluxo de ajuda por meio de um corredor humanitário criado por militares israelenses.

O Hamas também concordou em suspender o lançamento de foguetes durante a tréguas das operações de Israel, mas passado o prazo os confrontos foram retomados.

O Batidão Na Escola de Música da UFRJ



Era quarta-feira, mas era véspera de feriado! Na tradicional Escola de Música da UFRJ um recital diferente estava programado. O controle burocrático da universidade dizia que se tratava de música eletrônica. Uma demonstração de que a burocracia só é capaz de se alterar quando a realidade bate a porta. O lustre de cristais do Salão Leopoldo Miguez jamais tremera naquele ritmo, mas estava na hora. Chegando lá, o papo era reto:

“No Rio tem mulata e futebol,
Cerveja, chopp gelado, muita praia e muito sol, é...
Tem muito samba, Fla-Flu no Maracanã,
Mas também tem muito funk rolando até de manhã
Vamos juntar o mulão e botar o pé no baile”

“O meu Brasil é um país tropical
A terra do funk, a terra do carnaval
o meu Rio de Janeiro é um cartão postal
Mas eu vou falar de um problema nacional”

“Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela,
O pobre é humilhado, esculachado na favela.
Já não aguento mais essa onda de violência,
Só peço a autoridade um pouco mais de competência.”

“Essa onda de pancada
Isso não está com nada
Você hoje bate muito
E amanha leva porrada
Quero ver fraternidade
Aí no meio do salão”

“Era trabalhador, pegava o trem lotado
Tinha boa vizinhança, era considerado
E todo mundo dizia que era um cara maneiro
Outros o criticavam porque ele era funkeiro”

“Hoje eu tô na parede ganhando uma geral
Se eu cantasse outro estilo isso não seria igual”

“Trocaram a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.”

“Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”

“Ê ê ê ah! Peço paz para agitar,
Eu agora vou falar o que você quer escutar
Ê ê ê ê! Se liga que eu quero ver
O endereço dos bailes eu vou falar pra você”

Era a roda da APAFunk (Associação de Profissionais e Amigos do Funk), fruto da união entre DJ’s , MC’s “da antiga” e parceiros – como é o caso da antropóloga Adriana Facina e do sem-terra Mardônio Barros. Recém nascida da necessidade de arrancar a mordaça de muitos artistas populares presos a contratos desiguais, que enriqueceram os donos do Mercado do Funk - os mesmos que decidiram que “não é hora desse tipo de funk”. A APAFunk existe porque o “funk não é modismo, é uma necessidade, é pra calar os gemidos que existem nessa cidade”.