quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Batidão Na Escola de Música da UFRJ



Era quarta-feira, mas era véspera de feriado! Na tradicional Escola de Música da UFRJ um recital diferente estava programado. O controle burocrático da universidade dizia que se tratava de música eletrônica. Uma demonstração de que a burocracia só é capaz de se alterar quando a realidade bate a porta. O lustre de cristais do Salão Leopoldo Miguez jamais tremera naquele ritmo, mas estava na hora. Chegando lá, o papo era reto:

“No Rio tem mulata e futebol,
Cerveja, chopp gelado, muita praia e muito sol, é...
Tem muito samba, Fla-Flu no Maracanã,
Mas também tem muito funk rolando até de manhã
Vamos juntar o mulão e botar o pé no baile”

“O meu Brasil é um país tropical
A terra do funk, a terra do carnaval
o meu Rio de Janeiro é um cartão postal
Mas eu vou falar de um problema nacional”

“Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela,
O pobre é humilhado, esculachado na favela.
Já não aguento mais essa onda de violência,
Só peço a autoridade um pouco mais de competência.”

“Essa onda de pancada
Isso não está com nada
Você hoje bate muito
E amanha leva porrada
Quero ver fraternidade
Aí no meio do salão”

“Era trabalhador, pegava o trem lotado
Tinha boa vizinhança, era considerado
E todo mundo dizia que era um cara maneiro
Outros o criticavam porque ele era funkeiro”

“Hoje eu tô na parede ganhando uma geral
Se eu cantasse outro estilo isso não seria igual”

“Trocaram a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.”

“Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”

“Ê ê ê ah! Peço paz para agitar,
Eu agora vou falar o que você quer escutar
Ê ê ê ê! Se liga que eu quero ver
O endereço dos bailes eu vou falar pra você”

Era a roda da APAFunk (Associação de Profissionais e Amigos do Funk), fruto da união entre DJ’s , MC’s “da antiga” e parceiros – como é o caso da antropóloga Adriana Facina e do sem-terra Mardônio Barros. Recém nascida da necessidade de arrancar a mordaça de muitos artistas populares presos a contratos desiguais, que enriqueceram os donos do Mercado do Funk - os mesmos que decidiram que “não é hora desse tipo de funk”. A APAFunk existe porque o “funk não é modismo, é uma necessidade, é pra calar os gemidos que existem nessa cidade”.

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