terça-feira, 7 de julho de 2009

Coronel prende cabo da PM que agrediu jovem de 14 anos e dá lição de cidadania na tropa

Paulo Carvalho - Extra


RIO - O estudante João (nome fictício), de 14 anos, cuidava dos dois irmãos menores, na manhã desta sexta-feira, em sua casa, na favela Gogó da Ema, em Belford Roxo. Nas ruas da comunidade, 70 PMs de todos os batalhões da Baixada Fluminense - entre eles o cabo Alessandro Azevedo Bruno, do 39º BPM (Belford Roxo) - faziam uma operação de repressão ao tráfico. Por volta das 9h, as histórias de João e do cabo Bruno se cruzaram: segundo o adolescente, ele teve a residência invadida, foi agredido, torturado e humilhado pelo policial. Mas, ao contrário de outros casos de violência contra moradores de favelas - que acabaram na vala comum do esquecimento ou da impunidade -, desta vez a coragem de um pai e a presença de um oficial da Polícia Militar mudaram o rumo da história: o cabo foi identificado e, diante da tropa, recebeu voz de prisão e teve a arma tomada pelo coronel Paulo César Lopes, comandante do 3º Comando de Policiamento de Área.

Operação interrompida

Na 54ª DP (Belford Roxo), onde foi feito o registro do caso, João fez um relato emocionado do fato. Segundo o menor, o cabo Bruno entrou na casa perguntando por armas e drogas. Ao responder que ali não havia nada, o garoto disse ter recebido o primeiro tapa, do lado esquerdo do rosto.

João afirmou que, logo depois, o policial colocou um saco plástico na sua cabeça, prendendo a respiração. O menor disse que ainda levou um socos no peito e chegou a ficar desacordado.

Ao saber do episódio, o pai do menor, o autônomo Pedro (nome fictício), correu para casa. Quando o coronel Lopes chegou à entrada do Ciep Grande Othelo, dentro do comunidade, Pedro não hesitou em denunciar a agressão ao comandante, mesmo na presença do acusado.

"Este é um exemplo a ser seguido por todos os policiais "

Assim que ouviu a queixa do morador, o comandante ordenou que todos os policiais na operação fossem convocados e ficassem perfilados no pátio do Ciep.

Quando o cabo Bruno foi finalmente identificado por um trêmulo e assustado João, Lopes deu voz de prisão ao praça. O PM preso foi autuado por abuso de autoridade.

- Polícia não é feita para dar porrada. Tem que respeitar para poder ser respeitado - disse o comandante.


Apoio a comandante da PM que repreendeu cabo por agressão
Eliane Maria, Paulo Carvalho, Sérgio Meirelles, Extra

Coronel Paulo César Lopes repreende cabo que agrediu menor em uma operação da polícia

RIO - A repreensão pública a um cabo da Polícia Militar acusado de agressão a um menor de 14 anos durante uma operação na favela Gogó da Ema, em Belford Roxo, na sexta-feira, será levada como exemplo para a Anistia Internacional. De acordo com o presidente da Comissão de Direitos da Alerj, deputado Marcelo Freixo (PSOL), a atitude do comandante do 3 Comado de Policiamento de Área (3 CPA), coronel Paulo César Lopes, responsável pela Baixada, deve servir de modelo para toda a polícia:

- É algo para servir de exemplo, para entrar na história da polícia do Rio de Janeiro. Vou relatar esta atitude para entidades de Direitos Humanos, como a Anistia Internacional e a ONU.

Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), concorda:

- É uma virada histórica na posição predominante dos comandantes, que sempre desconfiam da denúncia da população, mesmo quando ela é convincente. O coronel teve coragem de reconhecer que a tropa se excedeu.

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